No dia 29/06, terça-feira, converso com o Dr. Michel Soane sobre as dores e delícias de ser cientista – esse sujeito determinado a se aproximar das verdades da natureza

Silvia Paladino

Se você precisa formular uma boa pergunta, peça ajuda a um jornalista. Essa sempre foi uma ideia que me fascinou, desde a decisão de ingressar na faculdade de Jornalismo. No auge dos meus 17 anos de imaturidade, eu tinha, entre amigos e família, uma fama duvidosa: “Você gosta de ser do contra”, eles me diziam.

Fui uma adolescente inutilmente rebelde? Em partes, sim. Mas, em minha defesa, não era só isso. Além de tirar qualquer um do sério, os meus incontáveis “mas e se…” também tiravam o ponto final da conversa para, no lugar, colocar um ponto de interrogação.

A pergunta é a chave da busca pelo saber e pela lucidez. Ela nos leva a investigar a realidade e usar essa fantástica máquina biológica que a natureza nos deu – a nossa mente. No Jornalismo, volto a dizer, a apuração é uma habilidade crucial – e, arrisco afirmar, a mais difícil de ensinar. Não há editor capaz de salvar um texto de uma pesquisa preguiçosa ou de uma entrevista protocolar.

Aprender a perguntar significa muitas coisas além do sentido óbvio da ação. Pressupõe lapidar o pensamento lógico, a sensibilidade e o poder de observação do entorno. Implica suspeitar das próprias crenças e brincar com o mistério, como uma criança que percebe o efeito de um travesso “por quê”.

Certa vez, um jornalista perguntou a George Mallory, que tentou ser o primeiro escalador a alcançar o topo do planeta: “Mas, por que escalar o Everest?”. Mallory, que morreu na montanha em 1924, na sua terceira tentativa de chegar ao cume, respondeu: “Porque ele está lá”. O fascínio pelo saber tem mais ou menos a mesma origem: se pode haver, e muito provavelmente há, uma resposta, por que não desvendá-la?

A minha trilha de formação em Jornalismo e, posteriormente, em escrita criativa de não ficção, me ensinou o que fazer com as informações que chegam até mim, a pensar com meus próprios recursos, a pegar leve nos pré-julgamentos e a não acreditar em gurus que dizem conhecer a verdade sobre as coisas. Mas foi na ciência que eu encontrei o sujeito mais determinado a se aproximar dos fatos: o cientista.

Além de fazer da pergunta a razão da sua existência, o cientista integra uma comunidade que tem seus próprios mecanismos de autovigilância e correção, fazendo da ciência um extraordinário sistema de conhecimento, ainda que imperfeito. E o mais importante: ele nunca está pronto. Não é definitivo, nem dogmático, ao contrário da distorcida fama que a ciência carrega.

É assim que ela inaugura campos de conhecimento, enxerga o que é invisível aos nossos nus e limitados olhos, cura e cria vacinas.

Mas, então, por que a ciência é mal compreendida?

Ao escrever este texto, eu até elaborei algumas hipóteses, mas o que eu tenho, mesmo, são dúvidas. Por isso, no próximo episódio da série “Des(Aprendendo com o exemplo)”, vou conversar com o pesquisador Michel Soane, PhD em Infectologia pelo Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e líder do EuroHUB, centro de geração e divulgação do saber científico da EUROIMMUN Brasil.

O que diferencia evidência de opinião, segundo o método científico?

O que deveríamos saber sobre ciência desde a formação básica, mas não aprendemos?

Como a curiosidade e a construção de conhecimento podem nos salvar de devaneios, medos e pandemias?

O Dr. Michel, com toda a sua paciência e bagagem como cientista, nos ajudará a elucidar esses pontos intrigantes, além de contar sobre a sua própria trajetória, suas dores e alegrias como pesquisador e os paradigmas que precisou desaprender em sua carreira.

Prepare a sua pergunta (mas capriche!) e coloque na agenda:

“Pergunto, logo existo”

com Dr. Michel Soane, PhD em Infectologia pelo Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e líder do EuroHUB

29/06, às 11h no instagram @euroimmunbrasil

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