Na nova temporada da série, o comunicador falou sobre a descoberta de seu machismo cotidiano, a transformação e sua forma de reparação dos antigos comportamentos

Tatiana Paiva

“Eu sou machista desde que eu nasci”. 

Estranho alguém admitir um defeito assim, né? Para Ken Fujioka, assumir esse comportamento faz parte de um processo de autodescoberta e do despertar para a desconstrução – caminho que já percorre há 10 anos.

Com mais de 25 anos de carreira em publicidade, cofundador da Ada Strategy e coordenador de um grupo de discussão do Memoh, Ken acredita que a transformação veio da percepção diária. Para ele, a percepção diária sobre a bolha homogênea do mercado publicitário – majoritariamente formado por homens brancos  e ricos na liderança -, a convivência com mulheres feministas e a atuação em uma pesquisa sobre assédio no mercado de comunicação foram fatores fundamentais para uma mudança progressiva e crescente na forma de olhar para o machismo estrutural, masculinidades e seu papel na desigualdade de gênero.

No dia 26 de maio, Ken participou do primeiro episódio da nova temporada da série de lives (Des)Aprendendo com o Exemplo. “Chega de viadagem: o falso e tóxico senso de masculinidade”, foi o tema que norteou o bate-papo com a Adriele Marchesini, nossa cofundadora. Abaixo, listamos alguns highlights e muitos (des)aprendizados dessa conversa.

  1. Conviva com o diferente

“Essa convivência foi fundamental para que eu estourasse a bolha. Antes disso, machismo, racismo e consciência de classe eram apenas conceitos para mim. Nesses últimos 10 anos de despertar, essas pautas se tornaram preocupações diárias.”

  1. Masculinidade tóxica e machismo são sinônimos?

“Não gosto de usar ‘masculinidade tóxica’ porque virou sinônimo de masculinidade, como se fosse a única possível – e existem diferentes masculinidades. O machismo é o preconceito e tem muito a ver com a ‘caixa do homem’, em que o único sentimento que o homem pode ter é a raiva.” 

  1. Faça uma autoanálise

Você já pensou se pratica algum tipo de assédio, principalmente no ambiente de trabalho? “Eu me descobri assediador. Comecei a pensar em todas as vezes que fiz pessoas trabalharem até mais tarde indiscriminadamente. Os líderes precisam ter mais consciência, algo que pouco existe na publicidade. Entender isso e mudar é um ato de reparação.”

  1. Cuidado com a apropriação de lutas feministas

Existe homem feminista? “Por mais que eu tente compreender, jamais serei empático à luta. Para ter empatia, precisa ser mulher. Os homens devem ser aliados do feminismo  – e fazer de tudo, menos dizer a uma mulher como ela deve se comportar.”

  1. Não se importe com a opinião alheia

Com a mudança de comportamento, as pessoas também podem mudar o que pensam sobre você. “Sinceramente, não estou muito preocupado se as pessoas perceberam alguma diferença. Estou preocupado em fazer minha parte mais do que falar.”

  1. Se for preciso, mude seu círculo de amizades

“Algumas pessoas faziam parte do meu convívio e hoje não fazem mais. Não é por mal, simplesmente não faz mais sentido por seus discursos. A vida é muito curta para gastar com pessoas ruins, nitidamente machistas, racistas, transfóbicas e classistas.”

  1. Assuma seu passado, transforme suas atitudes no presente e crie um novo futuro

Não é preciso ignorar os erros que você cometeu, eles fazem parte do processo de mudança. “Assuma seu passado, sua responsabilidade e se pergunte o que você pode fazer para repará-lo. Para mim, é um processo de conscientização, responsabilização, questionamento e reparação.” 

E teve muito mais durante a transmissão! Quer saber como foi o bate-papo completo? Dê o replay no nosso IGTV.

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