No décimo episódio da série, o montanhista Roman Romancini contou como substituir o desejo de controle pela capacidade de usar as forças incontroláveis a seu favor


Você tem controle de quê?

Se parar para pensar profundamente nessa pergunta, ela pode confrontar sensações ilusórias de segurança e criar bastante desconforto em qualquer um de nós, mortais com ansiedade. Mas, para alguém que ama a liberdade e preserva a curiosidade de uma criança levada,  como é o caso do Roman Romancini, “controlar nunca foi uma preocupação ou objetivo”, como ele diz.

Montanhista experiente, protagonista do documentário “Além dos sonhos” (lançado em 2020), físico por formação, VP de vendas de uma multinacional de TI e pai de família, ele procura entrar no curso da correnteza, para assim usá-la a seu favor – uma qualidade que ele lapidou nas expedições às mais altas montanhas do planeta. No entanto, deixar-se ir não é sinônimo de falta de planejamento ou racionalidade, inconsequência e irresponsabilidade.

No décimo episódio da série (Des)Aprendendo com o Exemplo, a pergunta inicial norteou a conversa de Roman com Silvia Paladino, nossa cofundadora. Mas ele foi muito além de conselhos bem elaborados. A partir de sua extraordinária história pessoal, ele nos convidou a desconstruir o desejo de controlar o imponderável, da maneira mais leve, racional e motivadora que você pode imaginar.

O menino curioso nascido em Brasília, que ainda criança sonhou em escalar o Everest, deixou mensagens que valem a pena ser compartilhadas, e que destacamos a seguir.

Controle x liberdade

“Eu sou filho de preso político. Meu pai sempre foi muito avesso a essas políticas mandatórias, à filosofia de tentar controlar tudo. Ele me ensinou muito sobre liberdade. Então, controle nunca foi uma preocupação e acho que é um pouco de mito. Eu diria que você tem que usar as forças incontroláveis a seu favor, como o velejador faz com o vento.”

Sonho x plano

“Como físico, eu tive uma formação muito acadêmica, com metodologia científica, o que foi fundamental. E também trago essa capacidade cobrada no mundo corporativo de execução. Não dá para eu sentar e sonhar com o Everest. Realizar é a capacidade de sonhar junto com paixão e método. E a disciplina vem como consequência.”

Aventura x expedição 

“A diferença entre aventura e expedição é o quão você está apto a tomar risco de forma não planejada. Tem a ver com controle, talvez. Mas tem mais a ver com previsibilidade e adaptabilidade. É mitigação de risco. Hoje, eu faço expedições, mas confesso que comecei escalando montanhas como aventura.”

Conhecimento x autoconhecimento

“Na montanha, ainda mais importante que o planejamento é o autoconhecimento. Você precisa entender quem você é, como o seu corpo está, como você reage à altitude, como você aguenta o frio, a falta de sono, o peso na mochila, a saudade da família. O que vai determinar a expedição é o seu poder de adaptabilidade. A sobrevivência tem a ver com a paixão pelo propósito. Você precisa ter um motivo forte, pois as dificuldades serão imensas. E quando tudo falha – o físico, o psicológico, o mental -, você levanta e diz: eu não posso morrer aqui.

Razão x emoção

“O poder de discernimento é uma habilidade que eu desenvolvi. Eu costumo dizer que, para o domínio do coração, o coração reina; para o domínio da razão, o campo onde a racionalidade se aplica, a razão reina. Não tente misturar, porque dá errado.”

Certeza x confiança

“Com as montanhas, eu aprendi, primeiro, sobre humildade e respeito. Foram as palavras que ficaram para mim quando eu saí dos Himalaias da primeira vez. A gente não é, a gente está. Isso é muito importante na construção de um negócio, de uma cultura. Na escalada, existe a cultura da irmandade da corda. O que ela significa? Confiança, mas num nível que você confia a sua vida, pois do outro lado da corda tem alguém que vai te segurar se você cair, e vice-versa. Não existem agendas separadas ou objetivos distintos.”

A história de Roman Romancini é contada no novo e premiado documentário “Além dos Sonhos”. A produção conta algumas das muitas histórias de quem – só por muita consistência, resiliência e paixão – chegou ao topo do mundo: o cume do Everest, que está a 8.848 metros acima do nível do mar.


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