Quando eu fizer referência a “você”, é comigo mesma que estarei falando. Mas, se funcionar para você (o outro ser humano, aí desse lado, também avesso a receitas de vida), sinta-se contemplado.

Por Silvia Noara Paladino

“Preste atenção. Foque seus arredores físicos e psicológicos. Perceba algo que o incomoda, que o preocupa, que não o deixaria ser, que você poderia consertar, que você consertaria. (…) O que poderia fazer, e faria, para tornar a vida um pouco melhor?”

Eu jamais teria escolhido um livro com título clichê de autoajuda – “12 regras para a vida”. Mas, quando você presta atenção aos seus arredores, coisas imprevisíveis podem acontecer.

Esse texto é a minha resposta – de hoje – à pergunta acima, elaborada pelo psicólogo clínico canadense Jordan Peterson.

Um esclarecimento, antes: quando eu fizer referência a “você”, é comigo mesma que estarei falando. Mas, se funcionar para você (o outro ser humano, aí desse lado, também avesso a receitas de vida), sinta-se contemplado. Sente-se e fale comigo. De repente, elabore a sua lista e pendure-a em um mural, em um local em que você possa vê-lo todos os dias.

O que você faria para tornar a vida um pouco melhor?

Coloque suas ferramentas inatas no lugar que merecem

Salve a medicina, pois terapia e medicação poderiam parecer mágica, se não fossem ciência. Em certos momentos, você deve aceitar essa ajuda e confiar nela. Deve fazer o que deve ser feito, como alguém que cumpre uma lista de tarefas, decidido e concentrado. Depois, quando sentir que está pronto, pode agradecer o que esses recursos lhe proporcionaram – descanso, alívio e, por fim, o impulso de restauração individual – e colocar suas próprias ferramentas, novamente, no lugar que merecem.

Saiba que toda a estabilidade da qual você precisa vem de dentro. Não importa quanto tempo demore para ela lhe chamar. Coloque as suas ferramentas em ação. Todos os dias.

Escale o seu obstáculo

Autossabotagem existe. Ela afeta até os mais certos do que querem. Você sempre teve clareza sobre seus valores e sobre os próximos passos. Você trabalhou duro para isso. Poderia listar os fatos e as decisões que revelam a sua natureza. Que atravessam fases e flutuam sobre as ondas de mudanças das quais você tanto gosta. Tenha orgulho disso, mas não se esqueça do que Jordan lhe disse: “Você é, por um lado, a coisa mais complexa do universo inteiro e, por outro, alguém que não consegue nem mesmo ajustar o relógio do seu micro-ondas. Não superestime seu autoconhecimento”.

Naquele dia, eu vi você dar meia volta e despistar a recepcionista do ginásio de escalada, ao ver uma gente forte e avançada em ação, rastejando com elegância sobre aquelas paredes que você ama, mas que lhe encaravam com segurança. Eu sei, você não se importa com o erro, só não quer ninguém lhe observando quando erra. Você sabe o que eu estou dizendo.

Eu também vi que, em uma segunda tentativa, você cruzou a recepção. Colocou as sapatilhas. Descobriu o movimento que exalta as suas maiores forças.

Escale toda semana. Passe de nível. Pare de se autossabotar.

Não se afaste

Chega um momento em que os sentimentos de afinidade e identificação parecem se esgotar. Pessoas que até ontem se integravam à sua vida como peças que se encaixam sem esforço, preenchendo espaços moldados para elas, tornam-se, de repente, diferentes. Elas mudaram, ou talvez tenha sido só você. Elas chegam a lhe decepcionar, só por não serem mais quem você conheceu.

Não importa. Elas continuam a ocupar espaços para os quais não existe banco de reservas. E é muito pior quando essas posições estão vazias.

Permaneça ao lado delas, não importa quem elas tenham se tornado, ou quem você tenha se tornado.

Medite ao despertar

Sem pensar se quer, se deve, se pode. Sem se culpar pelo tempo que você perdeu ao negligenciar essa sua capacidade e o seu conhecimento, sabotando – novamente – suas forças. Meditar é técnica – séria, complexa, ancestral, quase mágica.

Sente-se na cama ao despertar e medite, menina.

Faça agora

Já falei para você que autossabotagem invade os seres mais autoconfiantes. Não é por acaso que a maioria das pessoas tem dificuldade de execução. Nos atos de realização, você se prova. Não no mundo das ideias. A imaginação nos faz criativos e sonhadores, mas não realizadores. Realização acontece na realidade. E é no mundo das coisas que existem e que experimentamos com os sentidos que você é feliz.

Faça o que é preciso, como quem cumpre uma lista de itens a colocar no carrinho do mercado, sem pensar se você encontrará a gôndola certa por conta própria, se o que procura estará lá, se estará dentro da validade, se terá estoque, se será a decisão certa.

Faça agora.

Tenha um carro (sob análise)

Para Jean-Paul Sartre, “todo homem está condenado a ser livre, pois, tão logo é atirado ao mundo, torna-se responsável por tudo o que faz”. Já Baruch Spinoza definiu que somente o conhecimento pode nos libertar. Ayn Rand, em um só pensamento, une nossa condição individual natural com a tomada de consciência: “Liberdade: não pedir nada. Não esperar nada. Não depender de nada”. A filosofia nos ampara, mas definir liberdade não é o mesmo que vivê-la.

A liberdade, quando vista no palco da realidade, troca de papéis sem o seu comando. Se você percebe que poderia dar uma definição diferente de liberdade a cada vez que tenta elaborá-la, não se preocupe – isso não é dúvida, é condição.

Se a sua condição inegociável no momento é autonomia, talvez você já saiba o que fazer. Durante anos, carro representou a você dependência e gasto inútil de recursos valiosos. Mas não se surpreenda se essa premissa houver mudado.

Tenha um carro. Assim que terminar e confirmar aquele maldito Excel.

Coloque o autocuidado em prioridade

Toda vez que você chega no consultório de um dermatologista e ele me pergunta quais são os seus cuidados diários, você se culpa e, na sequência, se justifica: “doutor, não tenho disciplina para passar protetor solar no rosto. Faço de vez em quando”. E isso é mentira, pois você praticamente nunca faz.

Garota, passe a porra do protetor solar. Marque o seu médico. Faça os seus exames. Não cancele o compromisso com você mesma porque apareceu uma reunião importante, ou porque – a verdade é – você odeia agendamentos.

Cresça.

** Essa é uma lista em construção. **

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