No sétimo episódio da série, o jornalista e escritor Sergio Vilas-Boas destacou passos importantes e as piores práticas no processo de criação de um texto

Há quem diga que escrever é uma arte… e é mesmo. Mas viver da escrita é um trabalho como qualquer outro e precisa levar em conta, também, a atenção aos prazos. Então, como aprimorar uma arte, desenvolver um bom processo de criação e entregar o melhor serviço em uma data previamente estipulada?

Para o jornalista Sergio Vilas-Boas, um dos maiores especialistas em escrita de não-ficção no Brasil, além de consultor em narrativas, o primeiro passo é separar o processo de escrita artística, livre e sem prazo, da escrita cotidiana, aquela que é parte da carreira. “Mas todo mundo que está conectado precisa aprender a escrever”.

Doutor em biografias pela Escola de Comunicações e Artes da USP,  vencedor do prêmio Jabuti de 1998 pela obra “Os Estrangeiros do Trem N”e criador do site “Repensando Atitudes”, Sergio foi o sétimo entrevistado na série de lives (Des)Aprendendo com o Exemplo. No episódio “As cartas que você não manda”, ele conversou com Silvia Paladino sobre as piores práticas no processo de escrita.

1- Desprezar o seu momento

Em 2016, Sergio se mudou para a Itália e, nesse mesmo período, ficou dois anos sem escrever. “Eu não estava sentindo prazer na escrita, e a pausa me fez muito bem. Até então eu estava em ritmo acelerado, comecei a me sentir sufocado. Esse tempo foi bom para relaxar”. 

Ou seja, se até um grande escritor e autor de mais de dez livros publicados precisa de momentos longe da tela e do teclado, respeite-se caso você não esteja no melhor momento para se dedicar à escrita.

2- Focar-se em técnicas e esquecer o próprio estilo

“Muito se fala em escrita de explosão, mas esse tipo de experiência nunca funcionou para mim. Tenho perfil de planejador”, exemplifica, referindo-se a uma das técnicas utilizadas para impulsionar o processo criativo. 

Entender qual a melhor técnica para seu estilo é, portanto, crucial. Durante a live, Sergio lembrou um ponto muito importante: tempo de escrita não é somente aquele em que você ficou em frente ao teclado. Ele pode ser contabilizado desde o momento em que você pensou no tema, tomou nota, viu filmes e buscou referências. 

3- Adotar formatos “manjados”

“Se um texto é para agradar gregos e troianos, é difícil que ele seja autoral. Escrever um texto autoral é não ter certeza do que vai acontecer depois de publicado. A autoria é algo de alto risco, com posicionamento e estilo bem marcados.”

4- Esquecer da revisão

Leia, releia, vá descansar, depois retome, leia mais uma vez. Quantas mudanças – e melhorias – podem sair quando você revisita um conteúdo?

“Duvide sempre do que acabou de escrever, volte em um texto várias vezes para melhorá-lo. Use todo o tempo que você tiver até a entrega”. 

5- Abraçar os clichês

“O clichê precisa ser combatido como um inseto. Há uma falsa sensação de que ele nos ampara, que é algo indiscutível, mas é o uso de uma linguagem desgastada para não dizer nada.” 

O tom pode parecer de bronca, mas Sergio destaca que o clichê pode, sim, ser usado e tem sua função, como uma brincadeira inserida no contexto. O que não dá é para basear seu conteúdo em uma chuva de lugares-comuns. 

O maior (des)aprendizado 

O tempo de escrita ensinou ao Sergio muito do que (não) fazer e, principalmente, aquilo em que deveria se aprofundar: conhecer a si mesmo. “A escrita é uma forma de me desafiar, e é uma via de mão dupla muito legal, porque ela é muito melhor quanto maior o autoconhecimento do autor. O processo de se autoconhecer é a capacidade de olhar a si mesmo em circunstâncias diversas, e assim é a escrita.”


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