Apesar do volume de conteúdos produzidos por marcas e profissionais, poucos mostram originalidade e relevância – e subestimar a complexidade da curadoria é o pior dos gargalos

Poucas coisas me deixam de mau humor. Fome, sono e a banalização de conceitos complexos são bastante eficientes nesse sentido. A diferença entre essas causas é que as duas primeiras passam.

A minha terceira fonte de aborrecimento inclui a redução da inteligência e da criatividade aos métodos, com a plastificação de processos orgânicos e não lineares. É nesse contexto que começo a falar sobre curadoria de conteúdo. O termo acolhe um conjunto de habilidades múltiplas, voltadas ao entendimento e à construção clara do pensamento, de forma que uma ideia possa fluir na mente das pessoas.

Há algumas características que ajudam a definir a abrangência e a natureza dessa atividade – em especial, a da curadoria de conteúdo de impacto, aquela capaz de efetivamente informar, educar, persuadir e criar elos com o público-alvo. Essa interpretação é a melhor expressão do que fazemos na agência essense.

Abaixo, relacionei algumas das qualidades que ajudam a explicar a complexidade, a beleza e eficiência da curadoria de conteúdo de impacto:


1. Estratégia clara

Produzir conteúdo de maneira aleatória significa nada mais que atribuir ao acaso a expectativa de resultado. Por isso, toda iniciativa de compartilhar conhecimento deve partir da construção de um projeto editorial, que detalhe todos os aspectos fundamentais da estratégia e que vão além da curadoria, como mapeamento do público-alvo e entendimento dos canais – sejam eles digitais ou não – em que a audiência está presente. Em curadoria, especificamente, esse plano contém linha editorial, abordagens, tom e voz autoral, entre outros elementos específicos relacionados à construção de conteúdo.


2. Caça ao conhecimento

Saber onde e o que procurar pode parecer óbvio, mas essa etapa da curadoria de conteúdo – a chamada apuração, como definiu o jornalismo – requer experiência. Isso porque não basta qualquer informação, ou qualquer fonte. A curadoria de conteúdo de impacto requer a capacidade de identificar o que há de autêntico e inédito na fala de um executivo, na explicação de um professor ou na narrativa de uma história de vida. Esses pontos de originalidade geralmente estão associados a visões pessoais e de bastidores.


3. Conexão além da marca

A cocriação de conteúdo não é nenhuma novidade no jornalismo setorial. Há pelo menos 20 anos, as mídias especializadas desenvolvem ações, entre elas eventos e comunidades virtuais, que buscam a consolidação de conhecimentos e experiências em benefício de todo um mercado. Na curadoria de conteúdo, essa também é uma premissa. Afinal, negócios conectam pessoas e comunidades; portanto, uma marca precisa materializar no conteúdo a disposição de envolver esses agentes na construção do seu próprio legado. Isso significa, por vezes, abrir as portas para uma criação coletiva do conhecimento, sendo a marca uma facilitadora e mediadora de iniciativas que contribuem para o crescimento de todos.


4. Arquitetura do pensamento

Se você busca uma metodologia que simplifique e facilite a construção do pensamento – a expressão pura da inteligência da curadoria de conteúdo -, tomou o caminho errado. Arquitetar o conhecimento significa, geralmente, lidar com diversas fontes de informação, identificar quais delas deve preservar ou eliminar (e há vários critérios envolvidos nesse julgamento) e, por fim, dar ordem, coerência e beleza a essa cadeia de pensamentos.


5. Excelência técnica

A curadoria de conteúdo importa do jornalismo muitos dos seus elementos essenciais, por isso usa a referência da qualidade editorial (consistente e agnóstica). Mas não é só isso. O profissional da área deve dominar princípios e recursos gerais de uma escrita clara, concisa e correta, além de criativa e envolvente. Seja em artigo de executivo, reportagem, perfil, ensaio pessoal, report, roteiro de vídeo ou qualquer outro formato e linguagem de conteúdo, combinar palavras sempre é um processo criativo – e uma atividade profissional de alta complexidade.


6. Identidade e originalidade

Em poucos anos, o volume de conteúdos produzidos por marcas e profissionais extrapolou a mais otimista das expectativas desse mercado. Porém, poucos atingem o máximo potencial de criação de autoridade e relevância. E embora todos os elementos anteriores sejam responsáveis pela originalidade do conteúdo, existe aqui um aspecto específico e sutil da curadoria: a construção de uma identidade – a voz que se propaga dentro da mente do leitor, e que o faz perceber com quem está falando, seja um conteúdo autoral ou não.

Se você quiser chamar tudo isso de storytelling, até pode, mas precisa saber de uma coisa: eu sou péssima em disfarçar mau humor.

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